FAKE NEWS E FALSO FUTURO

09-08-2018 13:37

 

Fake News e Falso Futuro

Wilfred Hahn

Em tempos recentes, “fake news” e a “mídia falsa” chegaram ao conhecimento do público. Por que recentemente? Notícias falsas e os chamados “fatos alternativos” foram reputados como sendo fatores importantes no resultado das eleições recentes nos Estados Unidos. Um sentido maleável da verdade criou falsas realidades e uma “cobertura midiática” que serviu às agendas políticas. Inverdades e propensões foram amplamente aceitas como táticas políticas, contanto que, logicamente, essas se alinhassem com a causa e as perspectivas preferidas de tal pessoa.

Como tal, muitos aparentemente chegaram à lamentável conclusão de que não existe algo como “a verdade” na arena pública do discurso; tampouco “um relato do fato como ele é”.

Repórteres de notícias e legisladores, portanto, já não podiam ser confiáveis para transmitir fatos livres de tendências e vernizes. Em vez disso, a mídia era mais comumente vista como tendo se vendido a opiniões tendenciosas, número de espectadores e lucros. É claro que os candidatos políticos de todas as bandeiras também buscavam influência com tendências e apresentação de informações de um determinado modo, especialmente um modo favorável. Nesse sentido, as notícias e os políticos se davam muito bem. De fato, eles realmente precisam um do outro.

Fake news não é notícia, embora pareça que ela está se tornando muito mais aceita e difundida atualmente. Mas será que podemos dizer que estas tendências são novas? O analista Chris Hedges, do Truthdig, diz que os jornalistas e as empresas midiáticas abandonaram há muito tempo o relato de notícias. Citando-o diretamente: “A paisagem da mídia na América é dominada pelas ‘fake news’. Tem sido assim há décadas. Essas fake news não emanam do Kremlin. É uma indústria de bilhões de dólares por ano”.[1]

A Bíblia tem uma outra palavra para “fake news”; é chamada “mentira”. Como tal, logicamente, as falsas notícias foram originadas há muito tempo. Elas têm estado circulando de uma forma ou de outra desde o início dos tempos.

A Bíblia tem uma outra palavra para “fake news”; é chamada “mentira”.

Contudo, vamos nos voltar novamente para os tempos mais recentes. A fake news na mídia escrita de fato só veio a existir na mesma ocasião em que as notícias começaram a ser amplamente divulgadas. Isso foi por volta da época em que Johannes Gutenberg inventou a imprensa, em 1439. Quase que imediatamente, e desde lá até agora, houve questões sobre ética jornalística ruim, confusão sobre o que era verdadeiro e o que era falso e “notícias de aluguel”.

Enquanto a mídia impressa hoje toma muitas formas, a concentração da propriedade é, contudo, prevalecente na maioria dos canais – não apenas domesticamente, mas também globalmente.

Atualmente, o negócio da mídia é, globalmente, uma grande indústria, e a propriedade tem se tornado cada vez mais concentrada nas últimas décadas. Isto é verdadeiro globalmente bem como domesticamente na maioria dos países de alta renda.

Por exemplo, considere que 7 companhias, ou menos, controlam mais do que 50% da mídia impressa dos EUA hoje em dia. De acordo com um levantamento feito em 2016 pela revista Forbes, 15 bilionários no EUA controlam toda a indústria da mídia. Negociações visando fusões estão em andamento.

Deveras, a ambição e a motivação para o lucro certamente têm um forte papel, assim como o viés político. Não pode haver dúvida de que as empresas de mídia mais importantes são devedoras a seus acionistas. Isto se aplica a todo o modelo de lucro corporativo. Neste sentido, os negócios de mídia não são mais culpáveis do que qualquer outra corporação pública. Na verdade, as empresas de mídia falam sem restrições sobre isso.

Como certa vez falou o chefe da Westinghouse (que, naquela época, era dono da CBS, a rede de televisão): “Estamos aqui para servir aos anunciantes. Esta é a nossa razão de ser”.[2] Outros chefes da mídia estavam em amplo acordo. Rubin Frank (ex-presidente da NBC News) disse: “Notícia é algo que alguém quer suprimir. Tudo o mais é publicidade”.

Rubin Frank (ex-presidente da NBC News) disse: “Notícia é algo que alguém quer suprimir. Tudo o mais é publicidade”.

À medida que a cultura corporativa chegou à dominação e a competição entre diferentes mídias foi aquecida, aumentou a pressão para “produzir” a notícia que as pessoas vão querer ler. Novamente citando Chris Hedges: “Os jornalistas há muito tempo desistiram de tentar descrever um mundo objetivo, ou a dar voz a homens e mulheres comuns. Eles se tornaram condicionados a atender as demandas corporativas”.

De fato, muitos jornalistas trabalham abertamente como escribas para os poderosos e influentes... remodeladores e fiadores das novas “frases de efeito” para satisfazer agendas alternativas de talvez lobbies, indústrias ou mesmo pessoas ricas individuais.

Como resultado de todas as tendências acima mencionadas, George Friedman (o intrépido analista geopolítico e fundador de Geopolitical Futures [Futuros Geopolíticos]) diz: “A imprensa de prestígio, como costumávamos chamá-la, esbanjou sua herança vinda de gerações anteriores de jornalistas e perdeu seu direito de pronunciar a verdade”.[3]

Ao longo do caminho, também observamos que o que é chamado notícia hoje é geralmente nada mais do que histórias para entretenimento. Grande parte do conteúdo das notícias populares é trivial – acontecimentos de Hollywood e novidades da vida dos ricos e famosos. Os profissionais dos noticiários dos canais de notícias populares tendem a ter aparência e maquiagem de estrelas e astros de cinema. Mulheres jornalistas são apresentadas sentadas em banquetas altas e vestidas com saias curtas. Falatórios sem importância fazem sucesso.

A notícia real, passada, presente e futura, recebe menção restrita, limitada. Da mesma forma, a notícia internacional equilibrada continua a desaparecer do domínio público, inclusive durante esses tempos de atividades antiterroristas estrangeiras. A notícia internacional que realmente chama a atenção dos canais de mídia em massa ou é superficial ou é selecionada para entretenimento ou propaganda.

Ilusão é Verdade

A ideia de que a ilusão e as falsidades podem passar por verdades – até mesmo convencendo uma sociedade inteira a descartar a realidade – é velha. Foi uma ideia primeiramente promovida no jardim do Éden. “Foi isto mesmo que Deus disse...?” (Gn 3.1). Satanás promoveu uma mentira torcendo a verdade.

Todavia, de maneira geral, as pessoas tendem a gostar de acreditar em mentiras. Por quê? Porque a mensagem das mentiras parecerá agradável às pessoas. Mesmo sabendo que são mentiras, elas serão aceitas.

De maneira geral, as pessoas tendem a gostar de acreditar em mentiras.

O profeta Zacarias confirma, em suas duas visões registradas em Zacarias 5, que “mentira e roubo” definirão a essência da sociedade humana nos últimos dias. Mas como alguém pode realizar a tarefa de fazer com que todos creiam em mentiras?

Adolf Hitler, mesmo sendo um homem perverso como era, foi um mestre observador da psique humana. (Assim também é Satanás, o “pai da mentira” – João 8.44.) Citando Hitler: “Toda propaganda tem que ser popular e tem que acomodar-se à compreensão dos menos inteligentes dentre aqueles que ela procura alcançar”. Ele usou esse entendimento para causar grandes males e celebrou essa vulnerabilidade, dizendo: “Que sorte dos governantes que os homens não pensam”.

Mas, o que é a propaganda? É qualquer coisa que escolhe manipular a verdade. No entanto, seus mercados atualmente estão virtualmente em toda parte, especialmente devido às novas tecnologias: o amplo alcance da internet, mídia comercial e social (i.e.: Twitter, Facebook, Instagram, etc.).

O que é popular, ou o que vai ser “viral”, não é necessariamente verdadeiro e provavelmente não é uma notícia importante. Contudo, essa “corrente” de blogs, novos sites, postagens no Facebook e no YouTube (para mencionar apenas alguns dos mais importantes sites sociais) produzem um tipo de nova realidade compartilhada para as sociedades.

Richard Sennett, em seu livro O Declínio do Homem Público, faz a observação que uma “personalidade coletiva [é agora] gerada pela fantasia comum [...] e aqueles que podem manipular e moldar essas fantasias determinam as direções tomadas pela ‘fantasia coletiva’”. Endossar (i.e., aceitar como a visão de vida e de mundo de alguém) a “personalidade coletiva da fantasia comum” é francamente ser enganado, corrompido e descrente.

Pensamentos para Reflexão

A Bíblia diz que todo aquele que busca conforto nas coisas e perspectivas terrenas constrói sobre a areia. São as palavras de Cristo que devemos ouvir e praticar, não as fantasias do mundo (Mt 7.26). Tiago diz: “Adúlteros, vocês não sabem que a amizade com o mundo é inimizade com Deus? Quem quer ser amigo do mundo faz-se inimigo de Deus” (Tg 4.4).

Endossar a “personalidade coletiva da fantasia comum” é francamente ser enganado, corrompido e descrente.

Cito o senador John McCain, que, na ocasião estava preocupado com os possíveis efeitos da contínua concentração da mídia, disse algo que se alinhava com a capacidade da profecia bíblica (embora ele talvez nem estivesse consciente disso): “Em algum ponto, você terá muitas vozes – e um ventríloquo”.

Com a busca comum aos lucros e a contínua concentração da mídia e das notícias, provavelmente haverá um grupo ainda menor – de fato, talvez constituído por apenas um indivíduo – que poderá controlar todo o sistema de mensagens na mídia em algum momento no futuro. Este resultado pode estar a alguma distância no tempo; ou talvez não.

A Bíblia identifica duas criaturas que podem ser futuros candidatos para o papel do tal “ventríloquo de um mundo só” – o Anticristo e o Falso Profeta.

Como as “fake news” têm em sua origem o pai de todas as mentiras, seu reino de iniquidade sobre o mundo tem verdadeiramente prosperado. George Friedman faz uma ampla observação sobre tal sociedade, que já vemos em grande escala atualmente: “Portanto, as mentiras florescem, acusações depreciativas são feitas, e alguns de cada lado ficam livres para crer no que eles quiserem crer [...]. Censores e prestação de contas já não existem mais. O Twitter é o lugar onde pessoas mal-intencionadas, com tempo à mão, podem falar mentiras”.

Como as “fake news” têm em sua origem o pai de todas as mentiras, seu reino de iniquidade sobre o mundo tem verdadeiramente prosperado.

Mas há uma dimensão adicional da fake news que os leitores não devem deixar de saber. Daniel Boorstin, em seu livro The Image: A Guide to Pseudo-Events in America [A Imagem: Um Guia para Pseudo-Acontecimentos na América], faz alusão à ela: “Os mesmos avanços que tornaram as imagens possíveis também fizeram as imagens – embora planejadas, artificiais ou distorcidas – mais vívidas, mais atraentes, mais impressionantes e mais persuasivas do que a própria realidade”.[4]

Mais persuasivas? Será que isso é possível? Uma imagem que é mais persuasiva do que a própria realidade? Isso poderia ser um processo perigoso, na medida em que o real então não pode mais ser discernido de uma imagem. A verdade seria inteiramente não discernível para os ímpios em um mundo desse jeito. Os valores seriam desconectados, desarticulados dos fatos e da verdade.

Em Apocalipse, lemos a respeito de uma imagem que é evocada para enganar o mundo todo: “Por causa dos sinais que lhe foi permitido realizar em nome da primeira besta, ela [a segunda besta] enganou os habitantes da terra. Ordenou-lhes que fizessem uma imagem em honra à besta que fora ferida pela espada e contudo revivera. Foi-lhe dado poder para dar fôlego à imagem da primeira besta, de modo que ela podia falar e fazer que fossem mortos todos os que se recusassem a adorar a imagem” (Ap 13.14-15).

Podemos Confiar da Bíblia?

Que mensagens sairiam de uma imagem falsa como essa? Não sabemos exatamente. Entretanto, sabemos que “o próprio Satanás se disfarça de anjo de luz. Portanto, não é surpresa que os seus servos [tanto humanos quanto demônios] finjam ser servos da justiça” (2Co 11.14-15). É possível que o mal seja manipulado para que pareça bem... as mentiras podem imitar a verdade (Is 5.20).

Já estamos enfrentando hoje essas preocupações e desafios?

2.000 anos atrás, muito tempo antes que existisse a imprensa escrita e a internet, o apóstolo Paulo já estava preocupado a respeito do engano do Diabo em torcer a verdade. “O que receio, e quero evitar, é que assim como a serpente enganou Eva com astúcia, a mente de vocês seja corrompida e se desvie da sua sincera e pura devoção a Cristo” (2Co 11.3).

Notas

  1. Chris Hedges. Truthdig“‘Fake News’ in America: Homegrown, and Far From New” (18 de dezembro de 2016).
  2. Advertising Age. 3 de fevereiro de 1997.
  3. George Friedman. Geopolitical Futures“The Internet and the Tragedy of the Commons” (4 de janeiro de 2017).
  4. Daniel Boorstin, The Image: A Guide to Pseudo-Events in America.
 

 

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