NETANYAHU VIAJA PARA WASHINTON EM DISCURSO HISTORICO
Com um amigo como Netanyahu…
Benjamin Netanyahu está em Washington. A viagem aos EUA culmina uma temporada de inépcia diplomática do primeiro-ministro israelense. Entre suas façanhas desde janeiro, quando ocorreram os atentados do terror islâmico em Paris, podemos enumerar:
1) conclamar os judeus europeus a emigrarem para Israel em função de antissemitismo, assim criando divisões nas comunidades judaicas de países europeus, forçadas a se posicionar entre as garantias de diversos governos de que tudo está sendo feito para protegê-las e o alerta nada diplomático de Netanyahu de que os judeus devem renegar seus países de origem.
2) irritar profundamente dirigentes europeus, a destacar o francês François Hollande, que insistem em dizer que os países europeus não são o que são sem os judeus. Netanyahu irrita também por seu simplismo de rotular a Europa em geral como anti-Israel e pendendo para o lado palestino em um conflito altamente complexo.
3) Netanyahu conseguiu criar rachas no poderossíssimo lobby pró-Israel no Congresso dos EUA, ao aceitar o convite malicioso do presidente republicano da Câmara dos Deputados, John Boehner, com o objetivo de desmoralizar o presidente Barack Obama, para falar no Legislativo nesta terça-feira sem consultar a Casa Branca democrata. Boehner rompeu o protocolo e Netanyahu a regra elementar ao tornar o apoio a Israel uma questão partidária e de lealdade aos EUA ou a Israel.
A Casa Branca pediu que este discurso não fosse feito e sua realização levou para o patamar mais baixo as relações entre Barack Obama e Benjamin Netanyahu. Agora são algumas mesuras de última hora, como o primeiro-ministro israelense dizer antes de partir para Washington no domingo que ele “respeita” o presidente americano. Tudo no esforço patético para consertar um pouco o estrago. A profunda antipatia é mútua entre Obama e Netanyahu.
Netanyahu alega que o discurso é urgente devido à ameaça nuclear iraniana e o cenário de um acordo impulsionado por Obama em que este programa nuclear de Teerã será meramente contido, algo de fato inquietante, embora a opção de um ataque militar contra as instalações nucleares seja também perturbadora.
Igualmente urgente é a necessidade para Netanyahu ganhar votos na reta final da campanha eleitoral israelense de 17 de março, em uma disputa suadíssima. Ele quer o holofote, tenta neutralizar o risco de perder votos para a extrema direita e joga para mostrar que os desafiantes de centro-esquerda são frouxos sobre o Irã, algo mentiroso. Meu guru Jeffrey Goldberg diz que a motivação de Netanyahu é perder o emprego. Ao falar no Congresso, ele quer mostrar ao eleitor que é o único líder nacional capaz de peitar o regime genocida de Teerã e o “regime” de Washington, ou seja, a Casa Branca avessa aos interesses de Israel.
Tudo isto em um contexto em que 2/3 dos judeus americanos são alinhados ao Partido Democrata e com muitos dos quais identificados com a coalizão de centro-esquerda Campo Sionista. Assim, Netanyahu cria dilemas para os eleitores israelenses e para os judeus americanos. Por que eles precisam escolher entre seu apoio institucional aos interesses de Israel e o apoio ao joguinho eleitoral de um primeiro-ministro que tenta manter o cargo?
O dilema para os judeus americanos já será vivido intensamente nesta segunda-feira, quando Netanyahu discursar diante do Aipac, o poderoso lobby pró-Israel nos EUA. Aplaudir o primeiro-ministro de forma efusiva será um repúdio ao governo Obama? Por que colocar um judeu democrata diante desta situação? Atualização às 13:20: no discurso desta segunda-feira, Netanyahu, como se esperava, disse que “não irá desrespeitar” o presidente Obama no pronunciamento de terça-feira e que as relações entre Israel e os EUA “são mais fortes do que nunca”.
Na avaliação de Meir Dagan, ex-chefe do Mossad (o serviço de espionagem de Israel), Netanyahu está causando um “pesado dano estratégico” na questão iraniana, ao antagonizar o governo Obama. Ademais, gerou riscos “intoleráveis” ao enfraquecer os laços de Israel com seu grande aliado americano. Na síntese de David Horovitz, do site The Times of Israel: Netanyahu tão errado por confrontar Obama e tão certo sobre o Irã.
Dagan e Horovitz concordam num ponto essencial: o aiatolá Khamenei só tem motivos para celebrar as ineptas ações do “pequeno Satã” que hoje lidera Israel. Fonte Veja